domingo, 28 de setembro de 2008

Há coisas que nunca mudam...



Estou agora a ler o "Alves e C.ª" do Eça (romance que retrata a vida quotidiana da burguesia lisboeta) e deparei-me, logo no primeiro capitulo, com um excerto, que bem podia retratar a realidade actual: "Godofredo parou, verificou o seu próprio relógio, preso por uma corrente de cabelo sobre o colete branco, e não conteve um gesto de irritação vendo a sua manhã assim perdida pelas repartições do ministério da marinha. Era sempre assim, quando seu negocio de comissões para o ultramar o levava lá. Apesar de ter um primo director-geral, de escorregar de vez em quando uma placa de cinco tostões nos contínuos , de ter descontado letras de favor a dois segundos oficiais, eram sempre as mesmas esperas dormentes pelo ministro, um folhear eterno de papelada, hesitações, demoras, todo um conjunto de trabalho irregular, rangente e desconjuntado de velha máquina meio desaparafusada."
Era assim o Portugal "liberal" do século XIX: atrasado, burocrático e dificultador da livre iniciativa. Ou seja muito parecido com o do século XXI.

2 comentários:

Ary disse...

Talvez queiras emendar para "século XXI".

Rodrigo Lobo d'Ávila disse...

Yep. My mistake