terça-feira, 23 de setembro de 2008

Quem tem medo do liberalismo...

Nunca vi tanta gente sábia na minha vida. Toda a sociedade portuguesa, desde o mais modesto carpinteiro até ao mais respeitável e sublime estadista, parece saber a causa e solução da recente crise financeira. No entanto há uma coisa que parece ser considerada verdade absoluta, e comum a todas as mentes bem pensantes: esta crise é o resultado da falta de regulação. Não sendo eu (ao contrário de todos os portugueses) entendido em economia, custa-me a perceber como é que esta afirmação, se coaduna com o facto da FED, publicar em média 70000 paginas de nova regulação por ano. Não haverá demasiada regulação? Pergunto eu na minha ignorância. Tanta que se torne demasiado complicada e ineficaz. Afinal já dizia o velho Platão: “Quanto mais leis, mais fácil é quebra-las”. Pergunto também a quem me souber responder, se as baixas taxas de juro da FED, (essa gloriosa entidade reguladora), não terão contribuído para a malta se endividar como se não houvesse amanhã?
Mas quem é o responsável por esta “falta de regulação”? O “Liberalismo” ou “Neo-Liberalismo”, ou lá o que seja, que presentemente é o papão da moda. Mas descansa meu querido Portugal que o liberalismo não constitui uma ameaça para ti. Todo a nação se entrepõe entre ti e o menor domínio da sociedade, por parte do estado: A extrema-esquerda, ainda de luto pela “grande pátria soviética”, desenterra os velhos estandartes, e com um “eu bem dizia” e ao som de Zéca Afonso nos lábios, reúne as suas hostes e prepara o “round two” contra o capitalismo. A esquerda moderada, tendo por arautos os ilustres membros do nosso governo avisam num chinfrim tremendo “que não pode haver mais economia do casino”, e dão a entender que vem aí uma avalanche de controlo de preços. A direita, (a que pensa em mais coisas que moral, bons costumes e ultramar), gosta demasiado do respeitinho para permitir um sociedade civil menos dominado pelo estado. Tendo como ídolos D. João II, Pombal e Salazar, não consegue resistir á ideia do estado esmagar os “poderosos”, pelo simples facto estes serem poderosos. A classe politica… bem ainda estou para ver uma classe que abdique voluntariamente do poder. Os grandes empresários, (que vivem á sombra do poder politico) não ousam reclamar contra o estado por terem medo das consequências e porque (“it takes two to tango”), gostam da ideia duma economia atrofiada que dificulte a aparição de novas empresas, e traga essa coisa irritante que é a concorrência. Os senhores iluminados da cultura, que por esse país fora ameaçam realizar o primeiro genocídio através do tédio, e que não hesitam em insultar de burro para baixo quem ousar criticar as suas “obras-primas”, horroriza-se com o liberalismo, pois tem consciência que devido á sua própria mediocridade (salvo raras excepções), não conseguiria sobreviver sem essa muleta monetária que é o estado. Por ultimo a igreja. Desagrada-lhe o liberalismo, porque por um lado tem inscrito no seu código genético o ódio ao lucro; por outro desconfia sempre da livre iniciativa e do livre arbitro: é preciso um bom pastor que guie as ovelhas. O seu único problema constitui a forma como este guiou e guia o seu rebanho, nada mais.
Portanto descansem todos os portugueses que tremem cada vez que ouvem a palavra liberalismo, pois toda a nação está do vosso lado para lutar contra este lobo mau do século XXI.

3 comentários:

Tiago Loureiro disse...

Um regresso em grande... Força nisso!

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

bom texto!

BSC disse...

Boa identificação de quase todos os males deste nosso Portugal! Pelos vistos ou mudamos de ideias ou mudamos de país... Triste "fado" este!