quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Má poesia

Apesar de ser deputado desde 1975, não deixa de ser estranho que só nos anos mais recentes Manuel Alegre nos venha dando a conhecer uma verdadeira existência política. O segundo plano em que Alegre se mantinha parecia motivado por um desígnio maior e mais condizente com os seus talentos: a poesia. Mas, misturando ambos, poesia e política, Alegre não se sai muito bem. E para isso basta dar uma vista de olhos às propostas inscritas no discurso feito no fórum das esquerdas.

Manuel Alegre não conseguir rimar despesa pública com controlo do défice. Não tem como fazer o ritmo bater certo nos versos sobre segurança social, educação e saúde na grande ode à política de ajudas sociais. Juntar “pleno emprego” e “bom emprego” é falsear uma rima. O “reconhecimento do direito à água como um direito humano” parece um verso vazio. Realçar a importância de “políticas públicas para as cidades” e “a defesa da qualidade de vida e o combate à especulação imobiliária” tem-se mostrado um paradoxo em Portugal. And so on…

Na verdade, a teoria de protesto da esquerda romântica de Alegre não cabe na métrica da esquerda prática do PS, o seu partido. A importância que Alegre quer ter não rima com os mais de trinta anos a viver sob a sombra do jogo democrático refastelado em inércia e inconsequência.

Em política, nem os bons poemas são solução. Muito menos os de Manuel Alegre.

1 comentário:

Rodrigo Lobo d'Ávila disse...

"Apesar de ser deputado desde 1975, não deixa de ser estranho que só nos anos mais recentes Manuel Alegre nos venha dando a conhecer uma verdadeira existência política."

Aconselho-te a ler este texto sobre do José Manuel Fernandes, se quiseres conhecer a existencia politica de Manuel Alegre, e a influencia e importancia que ele teve para a história recente de Portugal.
http://jornal.publico.clix.pt/default.asp?url=cronista.asp%3Fimg%3DjoseManuelFernandes.jpg%26id%3D284450%26check%3D1