A ideia de baixar impostos, reduzir a despesa pública ou libertar a economia do peso do Estado nunca se afiguram, para o poder político, como boas soluções para uma animação económica. Em vez disso, recorre-se a outras iniciativas como o apelo às obras públicas. Mas se a obra pública é algo que emana da necessidade inequívoca em relação a determinada estrutura, por parte da maioria dos contribuintes – que a pagam –, então justificar a sua construção com a necessidade de criação de emprego, por exemplo, é subverter a ideia de partida. Normalmente, a desculpa da criação de emprego aparece para esconder a duvidosa utilidade da construção de determinado empreendimento.
Mais do que isso, acreditar que os empregos criados pelas obras públicas representam um aumento linear no número de pessoas empregadas é falsa. O dinheiro dos contribuintes gasto para criar um emprego no âmbito das obras públicas, é dinheiro que deixa de ser utilizado para gerar emprego noutra área qualquer. Bastiat explica isso muito bem.
Esse tal princípio muito em voga de que a obra pública, bem como a intervenção do Estado sob outras formas, é boa para a criação de emprego, acaba por ser disseminada pela totalidade das forças políticas quando recorrentemente colocam o ónus do aumento ou diminuição do emprego directamente do lado do Estado. Assim, quando a oposição acusa o governo de ser o culpado da alta taxa de desemprego e o governo promete criar um determinado número de empregos, a ideia keynesiana de que o Estado é um dos principais motores da criação de emprego ganha força. Legitimam-se, dessa forma, as obras públicas como prática não só aceitável como inevitável, em vez de se lembrar que o dever do Estado não é ser um agente activo, mas antes tornar-se passivo, dando mais liberdade de movimentos às empresas, elas sim, parte importante quando se trata de impulsionar a economia.
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Também publicado aqui.
Mais do que isso, acreditar que os empregos criados pelas obras públicas representam um aumento linear no número de pessoas empregadas é falsa. O dinheiro dos contribuintes gasto para criar um emprego no âmbito das obras públicas, é dinheiro que deixa de ser utilizado para gerar emprego noutra área qualquer. Bastiat explica isso muito bem.
Esse tal princípio muito em voga de que a obra pública, bem como a intervenção do Estado sob outras formas, é boa para a criação de emprego, acaba por ser disseminada pela totalidade das forças políticas quando recorrentemente colocam o ónus do aumento ou diminuição do emprego directamente do lado do Estado. Assim, quando a oposição acusa o governo de ser o culpado da alta taxa de desemprego e o governo promete criar um determinado número de empregos, a ideia keynesiana de que o Estado é um dos principais motores da criação de emprego ganha força. Legitimam-se, dessa forma, as obras públicas como prática não só aceitável como inevitável, em vez de se lembrar que o dever do Estado não é ser um agente activo, mas antes tornar-se passivo, dando mais liberdade de movimentos às empresas, elas sim, parte importante quando se trata de impulsionar a economia.
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6 comentários:
concordo totalmente contigo qnd alertas para o erro cometido por todos os partidos politicos quando culpam ou elogiam o governo pela destruição ou criação de empregos!
Felizmente o governo de socrates não consegue criar 100 mil empregos!
Mas em relação ao investimento publico em termos de crise, na minha opinião as coisas não são assim tão lineares..
Sendo o mais pragmática possível, e pondo preconceitos politicos aparte, a verdade é que num periodo de perigo de deflação e armadilha de liquidez(como os de hj) os agentes racionalmente adiam todas as suas decisões de consumo e investimento!!!(ou seja a logica que investimento publico é dinheiro que os privados não investem deixa, nestas condições, de ser correcta!).
A espiral de baixo consumo e investimento- desemprego-baixa de consumo..... é complicadissima de ser resolvida!!!A deflação é bem mais assustadora que a inflação! (exemplo do japão)
Por isso sim acho que o Estado nestas circunstancias deve gastar dinheiro!
Claramente que as escolhas de investimento devem ser bastante criteriosas!
Países com divida publica de 100% do pib não se podem dar ao luxo de andar a "abrir e fechar buracos" para criar emprego! Têm que ser investimentos com elevados indices de rentabilidade!(e estradas já há muitas..)
Ana,
- Essencialmente, aquilo que critico é a utilização das obras públicas como pretexto para a animação económica via criação de emprego, e consequente valorização do Estado como agente principal nesse processo.
- A lógica de que o investimento público é dinheiro que os privados não investem parece-me sempre correcta. Se pudessem, não é líquido que o investissem noutras coisas; mas que não o podem investir, disso não há dúvidas. Mas essa possibilidade nem se pode, infelizmente, colocar. Estamos habituados a contribuir obrigatoriamente para um fundo gigantesco que alguém usa para financiar as decisões que toma em nosso nome. O que é discutível, portanto, é como o Estado gasta o dinheiro. E parece que estamos de acordo que a melhor maneira não é com estradas e afins…
- Já agora, não partilho da mesma visão catastrófica da deflação – tenho, isso sim, muitos problemas com a inflação, e suas consequências, nomeadamente no médio e longo prazo. De resto, um cenário de deflação não corresponderia linearmente a um crescimento económico mais lento ou até à falta dele. Parece-me que nesse processo, o nível de preços de commodities ou factores de produção é quase indiferente. O que interessa é o, chamemos-lhe, spread entre o custo da produção e a receita da venda. Os exemplos de deflação no auge da sociedade industrial mostram isso mesmo.
Penso que és provavelmente a única pessoa neste momento que se preocupa com a inflação..
Os banqueiros e economistas não se preocupam..
http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=343850
Nem o BCE ao baixar 100pp a taxa de juro de referência para 2,5%!!
Também gosto de ser do contra mas até eu conheço os meus limites...
Aquilo que disse acerca da deflação/inflação tem a ver com as minhas considerações genéricas e abstractas sobre esse assunto, e não propriamente com o momento actual em particular. Essa análise deixo-a para os economistas sempre cheios de ideias imaculadas e incontestáveis sobre estas coisas. Eu sou mais um a mandar bitaites, algo que tento fazer com convicção e o conhecimento de causa possível, e não por ser alguém com um gosto especial em ser do contra [bela consideração essa em que me tens… =) ]
Já agora: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=163
Vou ler o paper do dito sr quando tiver tempo mas a crise deflacionista japonesa infelizmente não me parece ter sido um ataque de histerismo de ninguém..
Não vejo mal nenhum em ser se do contra!!Acho bem mais interessante do que ser a favor de tudo..
Portanto era mesmo um elogio!
Basta haver divergência de perspectivas, ainda que ligeira, e gente que faça a defesa da sua convictamente, para logo nascerem pessoas “do contra” (diferente da ideia de ser contra tudo porque sim, de que pensei ser acusado). Aprecio isso. Tanto que esse é o processo através do qual se dá a inflação de comentários aos meus posts – e com esta não me importo nadinha!
Por isso mesmo, para te dar a oportunidade de ser do contra, ainda hei-de escrever qualquer coisa a defender o padrão-ouro, nomeadamente pela sua importância no desencorajamento da inflação… ;)
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