segunda-feira, 7 de abril de 2008

Reabiltação - uma perspectiva


Estamos perante um século onde cada vez mais vamos nos deparar com edifícios e núcleos habitacionais onde será preciso adaptar, reconstruir, demolir.
Conjuntos ou edifícios que para muitos podem não ter o mesmo valor, sendo este simbólico ou arquitectónico, contudo precisamos de encarar todo o existente de uma maneira natural, pensando que estes vão ser alvo de uma metamorfose. Metamorfose esta, que deve ser entendida como uma transformação, uma adaptação do edifício ao seu novo uso.
Podemo-nos questionar se será mais valida a museolização de um edifício, a sua restauração segundo um conceito purista ou se deveremos questionar o edifício e adultera-lo criando assim uma nova história para o mesmo. Criando por conseguinte uma nova imagem.
No Bolhão no Porto, a Câmara dá à exploração o edifício a um promotor holandês a TCN e esta faz uma apropriação do edifício, dando-lhe uma leitura totalmente diferente do existente, isto é evidente na mais radical e evidente transformação, a construção de um novo piso intermédio e de um parque de estacionamento.
Resta saber se isto não foi uma maneira de poder adaptar ao edifício valências de um vulgar centro comercial. Perante isto temos de nos questionar se precisamos de mais um vulgar centro comercial mascarado de Bolhão ou se preferimos continuar a ter o genuíno mercado restaurado na integra mas com uma nova dinamização cultural e social, não deixando de permanecer como uma grande praça fechada dentro da cidade do Porto.
Não me interessa aqui questionar a imagem ou estilo de cada arquitecto ou empresa promotora, mas sim pôr em causa a abordagem, a mais valia que cada mercado ou edifício histórico pode passar a vir a ter com a modificação do seu original conceito. O Bolhão assim como o Ferreira Borges ou o Bom Sucesso podem e devem ser âncoras de encontro dos habitantes da cidade.
A memória colectiva que a cidade têm destes edifícios é importantíssima de ser mantida. Com o método adoptado pela câmara ou pela TCN estamos perante o livre arbítrio de cada um, de cada autor, poder criar à sua imagem em cada edifício, tendo este valor histórico ou não, pensando muitas vezes só no retorno económico.
Em casos como a Pousada do Bouro de Souto Moura, o objecto é desvirtuado da imagem inicial mas ganha novas valências como pousada de luxo. No entanto não nos podemos dar ao luxo de estar sujeitos a que cada um decida criar a sua imagem para um edifício existente. Se o projecto do Bolhão ou da Pousada do Bouro fosse dado a Frank Gehry, teríamos certamente um conjunto de telhados em titanium em vez de uma cobertura em placas de ardósia.
Intervir no existente passa por um distanciamento muitas das vezes difícil, (em arquitectos onde a prática é sempre a de construção de raiz), distanciamento este que deve se fazer em honra de uma memória colectiva do edifício perante uma sociedade que também ela retém uma imagem do edifício.
A função do técnico é dar o seu contributo para a instalação de mais um enxerto ao edifício, de adapta-lo à sua nova vida, dotando-a de novos meios técnicos, sem o desvirtuar, mas sem o medo de introduzir o novo sempre que este for necessário, de uma maneira natural e não forçadamente.

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