quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A aula de Constancio



Terça-feira resolvi assistir á longa maratona de 5 horas, que foi o inquerito ao Governador Vitor Constâncio. A razão porque assisti a esta monumento ao tédio não o sei. Talvez por me sentir com problemas de consciência e me quisesse, subconscientemente, penitenciar.
Deparei-me com um espétaculo absolutamente ridiculo: Não parecia que Vítor Constâncio tinha ido ao parlamento prestar esclarecimentos. Parecia antes que tinha lá ido fazer uma conferencia, até na forma em que estavam dispostos os lugares: os deputados num plano inferior, e o governador num plano superior.
A conferencia começou como é obvio com um discurso do conferencista, que deveria demorar 30 min mas acabou por demorar 70. De seguida vieram as duvidas: os deputados em vez de interrogarem o Governador á vez, como o deputado Nuno Melo tinha pedido, não : apresentaram as suas duvidas em bloco. Como isto não facilitasse suficientemente a vida a Vítor Constâncio, este ainda teve direito ás perguntas brilhantes do deputado socialista, que andavam sempre á volta do “porque é que o senhor é tão inteligente?” ou “diga-me senhor governador, como consegue se vestir tão bem?”.
Depois de Constâncio passar a hora inteira de perguntas, de cabeça virada para baixo (talvez lhe pese a consciência), vieram as respostas . Se aquilo fosse um circo, esta seria a parte em que entram os leões, os elefantes, os tigres e os palhaços todos ao mesmo tempo:
O governador começa por chamar burros aos deputados dizendo que eles não sabem o que é a regulação (eu arriscaria que o problema não é a ausência de conhecimento da parte dos deputados, tendo estes apenas uma definição de regulação ligeiramente diferente da de Vítor Constâncio). Durante a hora e meia seguinte, o representante máximo do banco de Portugal, fez mais uma vez um discurso extremamente chato, no qual repetiu incessantemente que não podia ter feito mais nada, ao mesmo tempo que se desculpava com os escândalos financeiros que houve em outros países, e que também escaparam ao controlo das autoridades. Adoro esta característica muito portuguesa: se “lá fora” fazem tanta ou mais merda que nós, a merda que nós fazemos, por definição, deixa de ser merda. Como é obvio no meio desta avalanche verbal de aborrecimento, ficaram por responder muitas das perguntas pertinentes feitas pelos deputados: com por exemplo o tempo de demora (90 dias) até ser apresentada queixa no ministério publico. A falta de reacção do BP ao vaivém de auditorias e de administradores, no BPN, também ficou por explicar. Etc.
Eu não queria entrar no habito, extremamente português de gritar “lincha! Mata! Esfola!”, mas penso que neste caso o pedido de demissão feito por Paulo Portas, é inteiramente justificado.

3 comentários:

Anónimo disse...

não percebo quando em 2003 já havia indícios de erros graves nas contas do BPN e ninguém agiu. O sr. Paulo Portar tinha conhecimento da situação e nada fez.
é preciso muita moral para agora vir pedir a cabeça do governador do BP.
Em Portugal a memória é sempre curta-

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

pingback para http://cafeodisseia.blogspot.com/2008/11/bpn-o-que-aconteceu-como-e-o-que-deve.html

obrigado pelo texto Rodrigo, foi uma fonte útil de informação.

Rodrigo Lobo d'Ávila disse...

Caro Joaquim Teixeira: eu duvido muito que as funções dum ministro de estado e da defesa, sejam supervisionar a banca. Contudo não consigo achar piada ao seu raciocionio, pelo o seu portuguesismo: "Os outros meninos fizeram asneira, logo a nossa asneira n é asneira nenhuma!"-- faz todo o sentido, sem duvida...

De nada Manuel!