"Ao fim de quase trinta anos de amizade e cumplicidade, num percurso que passou pelo jornalismo (no "Independente") e pela política (no CDS), Luís Nobre Guedes assume a ruptura com Paulo Portas.
O ex-ministro do Ambiente assegura que só não se candidatou nas directas de Dezembro passado porque chegou a um compromisso com o líder do CDS, que este quebrou: "Desta vez, só não fui candidato porque foi esse o acordo que fizemos", afirma Nobre Guedes, em declarações ao Expresso. "Tínhamos acertado que a discussão de moções seria o palco adequado para o confronto das nossas divergências. Afinal, foi o que foi", revela o ex-vice-presidente do CDS.
Assumindo que ainda teve "a ilusão de que alguma coisa se passasse no congresso", Nobre Guedes diz que o encontro do fim-de-semana passado não serviu nem para o debate interno, nem para a reconciliação, nem para a renovação. Ou seja, faltou tudo aquilo que o advogado iria defender no conclave, mas que não pôde fazer por não ter sido eleito delegado ao congresso - um facto pelo qual responsabiliza directamente o líder do partido.
"Ficou clara a razão pela qual o Dr. Paulo Portas tudo fez para eu não estar no congresso. Comigo não tinha sido possível ignorar a reconciliação, rejeitar a renovação e marginalizar o confronto de ideias e de estratégias".
Nobre Guedes tinha preparado uma moção de estratégia a que chamou "A Audácia da Mudança", onde admitia tanto uma coligação pré-eleitoral com o PSD como uma coligação pós-eleitoral com o PS, caso os socialistas vençam as eleições com maioria relativa. E critica a estratégia apresentada por Paulo Portas, que recusou coligações, tanto com o PSD como com o PS. "Acho que a opção isolacionista do CDS foi um retrocesso de 15 anos. Foi a negação do compromisso de Braga. E, por ora, fico-me por aqui", diz Guedes, que no congresso de Braga, em 1998, foi o autor da moção com a qual Portas chegou a presidente do CDS.
(comentário meu: Isto é surreal!!!!! Ainda bem que ele não foi ao congresso, porque, se o Portas foi muito atacado (e bem...) por não confirmar que não viabilizaria um governo de maioria relativa do PS com acordos pós-eleitorais, o Nobre Guedes com estas ideias, era completamente fulminado. Perdeu, assim, uma boa oportunidade para estar calado...)
Para Luís Nobre Guedes, este já é o momento de começar a preparar o pós-portismo, por isso aponta para o dia a seguir às eleições legislativas. "Agora, em termos internos do CDS, há que preparar as próximas eleições directas. Aí, o Dr. Paulo Portas não será, de certeza absoluta, o único candidato", assegura o antigo braço-direito do líder centrista.
Directas ainda em 2009
O advogado diz que está decidido a candidatar-se contra Portas, e não faz depender essa disponibilidade do resultado eleitoral do partido. Aliás, garante que não deseja "nenhuma desgraça". "Só se pode desejar um bom resultado. Um bom resultado reforça o CDS e cria excelentes condições para as próximas eleições directas", diz Guedes, que espera que seja marcada uma disputa de liderança "depois das eleições e até ao final do ano".
Embora o tira-teimas fique para a seguir às legislativas (sejam estas em Outubro ou antecipadas), Nobre Guedes diz que está desde já disponível para debater o rumo do CDS com o seu antigo aliado. "Fica o repto para um debate público. É bom haver diferenças dentro dos partidos. Estamos a falar de política e do futuro de Portugal numa situação dramática. Continuo a pensar que o debate é urgente"."