sábado, 7 de fevereiro de 2009

Até para tirar daqui a referência ao cadafalso (onde pereceram, p.ex., S.A.R. D. Luís XVI e a Rainha Maria Antonieta, vítimas da revolução jacobina - perdão, francesa) deixem-me escrever uma curta referência à Convenção do Bloco de Esquerda.
Não é preciso adivinhar que muito do que por lá se diz será, por mim, qualificado de disparate. É natural que não concorde com o BE da mesma maneira que espero que um bom militante do BE se ria do que eu escrevo. Mas há frases que não devem cair no esquecimento. Cá vai esta, sobre «Uma das propostas [que] foi a proibição dos despedimentos nas empresas que apresentam resultados.»
Esta proposta pode parecer um desaforo ou pode parecer sensata, depende de que "lado" se está no pensamento económico.
(Uma breve nota, fundamental: as políticas económicas não podem ser avaliadas quanto à sua intenção mas sim quanto ao seu resultado. Por isso a economia tem mais que ver, na minha humilde opinião, com sociologia que com matemática)
É preciso portanto ver quais as consequências duma lei como a que o BE propõe (vamos saltar a parte que me parece fundamental mas para muita gente é acessória, da liberdade contratual e da liberdade de fazer com o meu dinheiro o que bem quiser).
A proposta do BE teria como provável consequência um aumento porreiro do desemprego e consequente pobreza. Porque o que faz a economia andar são os ganhos de produtividade e a ganância por mais lucro. O facto da empresa A conseguir produzir o mesmo produto que a empresa B gastando menos recursos leva a que o produto possa ser vendido mais barato. A empresa B ou também gasta menos recursos, ou muda de produto, ou deixa de trabalhar.
Um recurso na produção é com certeza a mão-de-obra. E foi a poupança em mão-de-obra que permitiu que hoje tenhamos roupa, electrónica e carros (para dar três exemplos) baratos e acessíveis a muita gente. A malta que comprou carros há cem anos atrás por uma fortuna deu lucros à malta que produzia carros, o que incentivou a produção de mais carros e financiou as descobertas que permitiram que os carros hoje sejam mais baratos de produzir e consequentemente estejam acessíveis à maior parte da população. Antigamente produzir tecido à mão, em enormes fiações, era caríssimo e só os ricos tinham acesso a roupa de qualidade. Hoje, graças a esses ricos que gastaram fortunas na compra de roupa, máquinas produzem roupa por tuta-e-meia.
Nesse processo perderam-se inúmeros empregos, certo? Nem por isso: se é verdade que na Europa particamente ninguém mais trabalha em fiações, também é verdade que os recursos que se pouparam na produção de roupa hoje são empregues em milhares de outras indústrias e serviços e - como por magia - temos hoje certamente menos desempregados que há cem anos atrás. E acesso a roupa barata.
Essa magia chama-se mercado, é espontâneo, e é, até ver, muito mais eficiente que qualquer esquema de distribuição de riqueza engendrado pelo Homem. Parece cruel, mas quem diz verdade não merece castigo: os despedimentos de não-sei-quantos-milhares de trabalhadores de fiações, minas e fábricas de automóvel de ontem, faz com que hoje os carros e as t-shirts sejam mais baratas. E porquê? Porque os capitalistas mauzões foram gananciosos, quiseram mais lucro, e tomaram as decisões para maximizar o seu lucro: produzir mais eficientemente.
Ora os lucros que o BE abomina têm duas importantes funções: pagar o risco dos acionistas/empreendedores que investem nas empresas e ser reinvestidos na economia. A proibição de despedir quem tem lucros faz com que:
  • Quem tenha lucros não possa ganhar produtividade via mão-de-obra. Isto proíbe máquinas que substituem mão humanas, p.ex.. Se a empresa A abrir no ramo da empresa B, já estabelecida, e usar menos meios humanos na sua produção, a empresa A ou fecha, ou espera ter prejuízos para se remodelar - deve ser muito mais fácil remodelar uma linha de produção com prejuízos acumulados.
  • As empresas tenham - depois dos impostos mais um! - incentivo a não declarar lucro. A fuga ao fisco torna-se mais apetitosa.
  • Haja menos lucro na actividade empresarial.
  • Seja desincentivada a contratação de mais mão-de-obra.
  • Seja desincentivada a aplicação de capital em empresas.
Bom, não foi tão curto como prometi, mas sempre empurra o post do Ávila mais para o fundo :D
Podem-me chamar de fásssista.

4 comentários:

Rodrigo Lobo d'Ávila disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rodrigo Lobo d'Ávila disse...

Vil tirano... Mas quanto ao discurso de Louçã: adorei principalmente a ideia de meter-se dois coelhos numa toca e saírem de lá coelhinhos... Brilhante!!!

michael seufert disse...

Isso dos coelhinhos lança uma dúvida: e se for um casal homossexual?

Rodrigo Lobo d'Ávila disse...

Nesse caso que seja um casal de coelhinhas...