Como disse anteriormente, e seguindo o raciocínio da Beatriz, a eutanásia é uma matéria muito diferente da do aborto quando (e isto é apenas uma das possíveis situações a que se pode chamar eutanásia) o que está é em causa é uma vontade expressa dum indíviduo.
Quem ponha os meios para à disposição de alguém que esteja completamente incapacitado de se mover e expresse a vontade de morrer não merece, a meu ver, castigo (criminal ou civil - a questão deontológica não é de âmbito político, acho). Estamos a falar duma vontade sobre a própria vida, aquilo que nos pertence a nós e só a nós.
Há, evidentemente, questão não-menosprezáveis quanto à implementação: quem avalia o estado mental da pessoa? A pessoa está mesmo a ser pressionada pela família? A pessoa pode expressar-se mas não pode agir activamente, como proceder? São questões importantes que há que debater, mas não mudam o meu princípio inicial.
Depois existem situações de eutanásia em que não tenho opinião formada. A questão do "testamento vital" é uma delas. Conquanto concorde com alguém deixar fixado quais medidas médicas podem ou não ser tomadas sobre si mesmo, onde se incluem medidas como ventilação artificial e outras de prolongamento da vida, já quanto à eutanásia activa tenho dúvidas que isso possa ser resolvido num documento desses. Também aqui teria que haver normas que validem este documento, a sua validade etc.
Por fim uma situação com a qual discordo profundamente e que representa um vergonhoso desrespeito da vida humana. Falo das situações em que uma pessoa, sem poder comunicar, numa situação vegetativa, é morta por indução de venenos ou por retirada de alimentos fundamentais à sua sobrevivência, por vontade de terceiros. Isso repugna-me.
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1 comentário:
Uma das maiores dificuldades de discutir a eutanásia é esta conter situações tão distintas como um ser humano que pleno das suas capacidades mentais, mas não motoras, pede para que o matem; outro que à priori estabelece condições sobre as quais, e no caso de não se poder expressar, quer ser morto; ou ainda alguém que esteja em morte cerebral.
As duas primeiras situações são me muito sensíveis por pressuporem que hoje eu sei exactamente qual seria a minha decisão numa situação que não compreendo e que me é completamente estranha.
Há ainda o problema de caso seja legalizada, a eutanásia pressionar o doente para a aceitar e não se considerar um fardo para a familia, ou um encargo financeiro para a sociedade.
Preocupa-me o facilitismo da morte.
A medicina que deixará de investigar, de investir em soluções que poderiam estar próximas..o desistir..
O último caso acho que não é 'considerado' eutanásia e é prática médica corrente. Não sei bem qual é a definição..
Concluindo.. Não sei.
Pq hoje, plenamente sã, acho que a minha vida não faz sentido sem a capacidade de pensamento e de comunicação que me fazem ser o que sou. E exijo aos que me estão mais próximos que num caso destes cometam a ilegalidade de me libertarem de assistir passiva ao meu próprio definhamento..
Mas sei que se alguém mo pedisse não teria a força nem a capacidade de o fazer..
Por mais que reclame o direito de decidir sobre o meu corpo, acho que a eutanásia é uma demonstração sublime de egoísmo.. da pessoa, da família, da sociedade..
Mas lá está.. Acho que somos todos pelo menos um bocadinho egoístas..
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