terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Dining with Salazar



Já experimentaram, num jantar com amigos, dizer a meio de uma conversa, a palavra Salazar? O ambiente poderia ter sido até aí o mais amigável possível, no entanto a partir do momento em que a fatídica palavra fosse pronunciada, uma brecha como que se abriria no meio da mesa e os dois lados lançar-se-iam numa discussão ferocíssima. Rapidamente o tom de voz sobe e torna-se mais agressivo. No entanto apesar da vivacidade da discussão os argumentos (de ambos os lados) são geralmente pobres, e focando-se sempre no pormenor e nunca no big picture: não passam do já nosso conhecido "havia respeitinho" e do ainda mais palerma "o salazar descriminava as mulheres". Tratando-se o uso destes argumentos de uma obvia patetice, cumpre saber porque é que estas pessoas os usam? Serão burras, pergunta o leitor? Não, muito pelo contrario. Até pode ser um grupo de pessoas com uma formação cultural e intelectual superior á media. Será que este grupo de pessoas viveu aínda no estado novo, perdendo assim a sua objectividade quanto á avaliação deste regime (por terem sido beneficiadas ou perseguidas por ele)? Também não. Todas elas nasceram no pos-25 de abril. Então porque será? Esta falta de racionalidade, na minha opinião deve-se , á falta de objectividade com que os portugueses, vêm a politica e os lideres políticos: vêm-os de uma forma emocional, (não racional). Avaliam os seus lideres por percepções imediatas, indo depois alinhar todos os restantes argumentos de acordo com essa precepção. Daí a discussão durante o jantar, não saír de promenores insignificantes, e da berraria total.
Deve-se tambem, a esta caracteristica muito portuguesa, a falta de ideias no debate politico português nacional: até aqui o debate é feito de trivialidades! A grande batalha politica é sempre pela melhor imagem. Quem demonstra ser o mais moderno, energetico e simpatico ou o mais responsavel , ordeiro e cinzento, isto conforme os gostos, ganha.
É por isto que nunca nenhum escândalo politico (excepto o da casa pia, e por razões óbvias), machucou irremediavelmente algum dos membros, da nossa brilhante classe dirigente: Porque a partir do momento em que estes acontecem, e mesmo antes de acontecerem, as posições já estão definidas e decididas. Tomemos como exemplo o caso freeport as pessoas que que apoiaram e acima de tudo acreditarem em Socrates dizem, que o escândalo (seja ele qual for) trata-se de uma campanha contra o seu querido lider; no caso de serem um pouco mais cinicos encolhem os ombros e dizem: "todos o fazem, ao menos este é competente". Os que não o apoiaram, e que sempre detestaram a personagem em questão, esfregam as mãos de contentes e dizem: "Eu bem sabia que o tipo era um gatuno!! Mata!! Mata!! Esfola!! Esfola!! No final o quadro politico acaba por se assemelhar em quase tudo, ao quadro politico inicial.
É por isto que Sócrates nunca será afectado pelo caso freeport. E é por isto que ele irá ganhar as eleições, e muito provavelmente com maioria absoluta!

P.S.: Qualquer semelhança deste "jantar" com outro qualquer jantar é pura coincidência.

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