quarta-feira, 29 de outubro de 2008

É o modelo nórdico, estúpido!

Os paladinos do Modelo Nórdico, atendendo à proposta do Conselho Nacional de Educação (CNE), por esta altura, devem estar eufóricos. O CNE vai propor ao Governo o fim das reprovações até ao 9º ano. A argumentação de tal medida reside no exemplo finlandês, ou seja, o País em que os Alunos têm o melhor desempenho do Mundo – será porque ninguém reprova durante a escolaridade obrigatória? Suspeito que sim.
Advogam os Conselheiros, entre outras coisas, do mesmo calibre, que “há alunos que acumulam insucessos em anos educativos, ficando desenquadrados nas turmas em que são colocados e, em muitos casos, não encontrando alternativas, a não ser o abandono”. De facto, é uma tragédia. O malvado do Sistema que os obriga a estudar e a atingir mínimos para passar o ano! Fascistas! Fascistas! Vão ainda mais longe quando soltam esta pérola “A repetição (do ano) atira a responsabilidade da não aprendizagem para o aluno e sua família”. Este raciocínio “A culpa do chumbo não é do aluno, mas sim, do sistema”, é, no mínimo, brilhante. Querer chumbar alguém, cuja tarefa é estudar, por ser incompetente é escabroso. Só por cá! Fascistas! Fascistas!

O que vai acontecer, obviamente, caso a medida seja adoptada:
Professora: Zezinho! Tiraste negativa no teste de Português.
Zezinho: Não tem mal Sra. Professora!
Professora: Mas, não estudaste?
Zezinho: Não. Fiquei a jogar Playstation, com o meu irmão.
Professora: Olha que ainda reprovas o ano!
Zezinho: Não se preocupe Sra. Professora, os Socialistas não deixam.

Eu não gosto de pagar Impostos, mas não é por deixar de ir às repartições de finanças que os deixo de pagar. O mesmo se deve aplicar aos alunos, isto é, também gostava que todos tivessem aproveitamento, mas a solução não pode, nem deve, ser por decreto. Muito menos, apostar numa politica de desresponsabilização de todos os intervenientes, sejam eles, Alunos, Pais, Professores.

Se o objectivo é melhorar as estatísticas, muito bem, estão na direcção certa. Agora, se realmente querem melhorar o Ensino, não será melhor apostarem na aprendizagem e no cultivo do mérito e da competência?

Nota: Sim, faço parte do Clube que gosta de competência e promove o mérito! É com orgulho que sigo esta “manada” :)
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3 comentários:

Tiago Loureiro disse...

São mundos diferentes. O diálogo que colocas no post, que seria regra em Portugal, dificilmente aconteceria num país nórdico sem que o aluno ficasse gravemente embaraçado. As diferenças de cultura e de mentalidade entre o Sul e o Norte da Europa são demasiado grandes. A mesma diferença que torna uma medida eficaz nesses países uma potencial patetice em Portugal, como me parece ser o caso da proposta do CNE.

Infelizmente uma das marcas da nossa "mentalidadezinha" é a tendência para pensar em importar modelos estrangeiros bem sucedidos sem atender às idiossincrasias do nosso país. E depois dá no que dá. Veja-se o que se passou com o Rendimento Mínimo. E também o que provavelmente vai acontecer com a flexigurança...

André Barbosa disse...

O Post é uma critica à importação dos modelos nórdicos. Naturalmente que o diálogo dificilmente aconteceria num desses paises. Já aqui (não me lembro é quando :)escrevi sobre as diferenças dos modelos e as razões para não ser possivel copiar o modelo. E como dizes, e bem, esta medida do CNE não passa de uma patetice.

ALiás, não critico o modelo nórdico em si. Acredito que, tomando o exemplo da Finlândia, sirva na perfeição e, de momento, não queiram outro modelo. Mas, dadas as diferenças naturais, não me parece que possa ser aplicado em Portugal. O que me incomoda mesmo, é a tendência para recorrer a estes modelos quando surge um problema. É o RM, é a flexigurança, é esta medida...

Nuno Silva disse...

André, completamente de acordo com a tua analise e achei particularmente engraçado a conversa professora/aluno...lá está era aquilo que no outro dia se falou e bem, é preciso parar esta tentativa de nos comparar com os nórdicos, quase sempre com a Finlândia por não o somos...a nossa génese cultural é completamente diferente.

Abraço