sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Sobre as directas...

A propósito das directas volto a publicar um texto que já tinha publicado à seis meses:

Venho hoje falar-vos (se é que alguém está disposto a ouvir-me) das directas e dos efeitos que estas tiveram nos partidos da direita portuguesa. Foram aclamadas como o maior avanço da democracia desde tempos imemoriais: acabaria com os “baronatos” dentro dos partidos e daria a possibilidade aos militantes base de escolher o seu líder. Com isto acabaram os congressos como nós os conhecíamos: os congressos em que a disputa da liderança possibilitava a um feroz debate de ideias; os congressos em que um militante base podia intervir, da mesma maneira que intervinham os candidatos á liderança, gerando um empowerment que conferia estrutura e musculo ao partido. Depois das directas, o congresso, passou a tratar-se duma mera formalidade, em que nenhuma ideia surge: uma aclamação do líder, no qual muito pouca gente se afasta da corrente do "Uni-Pensamento".

Desta maneira os partidos ficam mutilados á partida; sem o debate interno que possibilitava a definição do caminho que o partido e o líder deveriam traçar, toda a organização vira-se para o segundo á espera que ele defina toda uma doutrina, ideologia e programa politico. Ora como os líderes partidários não podem fazer consigo mesmo o debate necessário, sob a pena de se tornarem esquizofrénicos, restam-lhes muito poucos caminhos: primeiro renovam ambos a imagem e os símbolos do partido, enquanto vão clamando que a nova imagem representa um partido novo, que esse sim vai ganhar as eleições. A partir daqui há duas opções: no caso do glorioso PPD\PSD, transforma-se o partido numa espécie de Circo Cardinal, e faz-se uma “tour” da carne assado pelo país até 2009; neste caso a oposição feita ao governo limitam-se a acções de circunstância, dando a parecer que o PSD aspira a ser em tudo igual ao PS, excepto na cor. Já o CDS-PP que galopa entusiasticamente para a glória eterna (ao bom e velho estilo da Light Brigade), utiliza uma estratégia ligeiramente diferente: copia quase toda a performance dum partido estrangeiro que esteja na moda (geralmente os Tories), sem se preocuparem se esta é aplicável á realidade nacional, nunca aprofundando demasiado as questões, que esta levante. Deve-se dizer, honra seja feita ao CDS e a Paulo Portas, que a oposição feita por este ao engenheiro Sócrates seja bastante mais credível e eficaz que a dos seus compinchas um pouco mais á esquerda. O único problema é que todos os simpatizantes que CDS ganha na assembleia da república, perde-os na capa do Expresso, ou do Público.
(...)

1 comentário:

BSC disse...

Excelente análise. Por princípio, tb não sou grande fã das directas...