segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Telhados de vidro

Devo dizer, para começo de conversa e em jeito de declaração de interesses que, sendo cristão, não sou filiado em qualquer corrente religiosa. Acresce a isso, o facto de não sofrer de anti-clericalismo ou outro qualquer “anti” em relação ao mundo religioso.

Por estes dias, o bispo de Leiria-Fátima veio dizer que é imperioso “rever os sistemas de remuneração e gratificação dos dirigentes de instituições financeiras” que considerou escandalosos. Numa crítica subliminar ao capitalismo, juntou-se aos seus detractores lembrando que “as coisas têm um preço, mas os homens têm dignidade”.

É interessante verificar, no entanto, que um dos locais em que as todas as coisas têm mesmo preço... é Fátima. Uma pequena localidade que vive, literalmente, à custa da fé dos peregrinos. Onde existe uma área circundante ao santuário repleta de lojas e lojinhas que vendem artigos religiosos a preços razoavelmente elevados, hotéis e pensões com abundância anormal para uma terra daquelas dimensões, e restaurantes com nomes que mais parecem de associações religiosas. Em cujo santuário a fé dos peregrinos é posta ao serviço do tal capitalismo em forma de velas de cera ou daquelas mais modernas que acendem à força de moedinhas. Não é que o maldito capitalismo funciona bem em Fátima? Tanto, que recentemente se fez por lá um opulento investimento de 80 milhões de euros para a construção de uma igreja toda ela revestida de avareza e vaidade (dois pecados capitais, lembram-se?). Tudo coisas tão criticáveis e condenáveis aos olhos de alguns, e tão legítimas aos olhos de outros (incluindo eu), como o vencimento dos gestores de instituições financeiras.

Concluo portanto que o bispo se equivocou na sua crítica ao capitalismo. Na verdade, ou queria criticar um certo capitalismo que não lhe interessa (coisa que não me parece muito honesta), ou estava pregar os bons e velhos valores católicos. Mas, uma vez que até estava em Fátima, não teria sido boa ideia começar a fazê-lo por dentro?


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8 comentários:

Rodrigo Lobo d'Ávila disse...

Caro Tiago, concordo plenamente. Só um pormenor: Acho que te enganasao acusares o santuário de Fátima de luxuria. A n ser que os senhores padres andem a organizar lá uns bacanais, "roman style"? Não quererias dizer antes, avareza ou orgulho?

Tiago Freitas disse...

fátima é um santuário mundial...e por isso não poderia deixar de ter condições condignas para albergar tantos peregrinos...não me choca nada que se invista em obras para tal...e em relação a restaurantes e pensões...a igreja nada tem haver com o que se passa na cidade de fátima...

Tiago Loureiro disse...

Rodrigo,

Era avareza, de facto. Está corrigido.

Tiago,

Também não me choca nada. Acho que é um direito de cada um fazer o que quiser com o que é seu: seja em Fátima ou no BCP. Aparentemente o senhor bispo é que não. Tem dois pesos e duas medidas...

BSC disse...

Luxúria... pois! A língua portuguesa é mesmo traiçoeira.... upsssss

Qto aos bacanais "roman style" em que diferem dos outros??? Pelo uso de toga???? Ou por se falar em latim???

Rodrigo Lobo d'Ávila disse...

Nops... Simplesmente os romanos tão para os bacanais, como os russos para o xadrez, ou os suíços para o fabrico dos relógios: eram especialistas nisso. Álias se fores a ver a palavra bacanal, vem de Baco que como deves saber era o deus romano do vinho...

Anónimo disse...

Perdoa-lhes Avila porque não sabem mais!

BSC disse...

Parece-me bem, sim senhor!!!!!!!!!melhor ainda os bacanais de Marco António, a personificação do referido Deus... sobretudo a sua versão Richard Burton... ahhhhhhhhhhhhhhhhhhh

João Ribeirinho Soares disse...

Tiago Freitas,
Fáctima?