segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O Regresso de Keynes



Hoje Teresa de Sousa no Publico, juntou-se um coro de vozes cada vez mais crescente, que defende que esta crise financeira, marca o regresso de Keynes.
É verdade, que Keynes é um dos grandes génios da economia, estando provavelmente a par de Adam Smith. É verdade as sua teoria económica, ajudou a recuperar o mundo da grande depressão. No entanto devemos pensar um pouco antes de nos atirarmos para os braços das politicas Keynesianas. Por um lado porque o Barão Keynes foi usado (injustamente diga-se) como desculpa para cometer algumas das maiores barbaridades da história económica: em Portugal temos o perfeito exemplo disso, no aumento do volume do estado e na construção de grandes obras publicas que ocorreu na década de 80 e 90. Tudo isto foi feito utilizando a bandeira de Keynes, ignorando-se no entanto duas grandes premissas do grande economista:

1º) A intervenção do estado na economia deve funcionar de forma anticiclica, devendo-se por isso o estado retirar-se da economia em épocas de prosperidade económica. Só desta forma poderá ter margem de manobra para actuar em épocas de crise.

2º) O volume do estado não deve ultrapassar 1/3 do PIB (no caso português é á volta de 50% do PIB).

Por outro lado também temos que ter em conta contexto histórico e político no qual surge o Keinesianismo, ou seja na década de 20 e 30. Numa época em que o proteccionismo era a regra, poder-se-ia relançar a economia dum país, fomentando a procura, que por sua vez levaria ao aumento da produtividade. No entanto, não faz sentido aplicar esta doutrina na época da globalização, dado que a facilidade para ocorrência de trocas comercias, permitiria que a procura gerasse pura e simplesmente um aumento das importações, e não necessariamente um aumento da produtividade.
Pode se ainda a argumentar, que o aumento do proteccionismo, por parte dos estados, no pos-guerra levou a diminuição da interdependência dos mesmos, provocando um aumento do isolacionismo, que em muito contribui-o para II Guerra Mundial.
Concluindo, se quiserem o Keinesianismo de volta, tem que comprar o pacote todo ( isto inclui o aumento do isolacionismo dos estados) . Eu por mim (embora tenha muita consideração por John Maynard Keynes) continuo leal a Milton Friedman, porque muito simplesmente o comercio livre contribui mais para a paz e estabilidade mundial, do que ONUs, UEs e diálogos ecuménicos, todos juntos.

7 comentários:

ana vilela disse...

Não posso deixar de reparar no beatismo (já que a expressão está na moda!) com que ultimamente se fala de economia!
Toda e qq pessoa com acesso a uma caneta ou teclado virou fã, servo leal ou fanático de algum qq conhecido economista..axo mt bonito mas mais parece uma claque de futebol..e a capaidade critica dos intervenientes fica-se por ai..

Não estou de forma nenhuma a pôr em causa a tua capacidade critica rodrigo.. só acho perigoso quando lideres politicos começam a seguir cartilhas..

Rodrigo Lobo d'Ávila disse...

Cara Ana Ines:

Levantas uma questão inteligente: Até que ponto é que os lideres políticos, devem governar de acordo com uma ideologia pré-estabelecida.
Penso que os lideres políticos, devem governar de acordo com um modelo, de forma a permitir uma estratégia pré-estabelecida e organizada de desenvolvimento dum país. Esses modelos, vão os buscar a economistas, pensadores, filósofos, outros países etc. Contudo devem ser sobretudo pragmáticos e práticos, (tal como foram Roosevelt, Mussolini, e outros).De outro modo esse modelo pré-estabelecido, torna-se antes limitador e castrador impedindo de ver o "big picture".

Contudo eu não sou um líder politico. Não ocupo nenhum cargo politico. Sou apenas um cidadão. E como tal posso defender as ideologias, e os modelos de sociedade que me apetecer. Tal como, tu podes defender outros. Isso não acho perigoso. Muito pelo contrário, acho positivo pois assim contribuímos para o debate geral, de forma a que a própria sociedade possa escolher o seu próprio rumo. De contrário, a escolha dos nossos lideres políticos, seria baseada apenas nas suas qualidades pessoais. Isto é uma característica muito portuguesa e sobretudo latina. É também muito perigosa pois, como deves perceber, o debate politico baseado nos lideres, e não na sociedade, é meio caminho andado para o caudilhismo e para o cesarismo.

ana vilela disse...

Dear Sir:

Concordo plenamente contigo quando dizes que não é perigoso que um comum cidadão, como tu, defenda ideias decalcadas de um manual da década de 70 (ou de outra década qualquer) quando dá a "sua" opinião sobre economia! Vivemos numa democracia, onde todos são livres de expressar tudo o que de cinco em cinco segundos lhes passa pela cabeça sem intervenção de uma qualquer entidade reguladora...
O alvo do meu comentário foi a forma militante como a economia tem sido debatida ultimamente!Keynesianos contra neoliberais!Uns anunciando a morte dos outros!Todos a contar espingardas!Não posso deixar de me divertir com tudo isto!Com o clubismo..
E sim, espero sinceramente que os responsáveis politicos não caiam na fácil tentação de pegar num dos manuais, ler os conceitos-chave e começar a fazer orçamentos ou então lerem o subtitulo e não fazerem nada!Nenhum dos dois caminhos me parece o ideal..
Também espero que por muito pragmáticos que queiram ser não optem pela via "pragmática e prática" do duce.. Mas enfim penso que a sociedade tem os lideres que merece..

Rodrigo Lobo d'Ávila disse...

Chère Mademoiselle:

Não sei porque te espantas, com o clubismo. É perfeitamente natural. O homem é um animal social, e como tal tem tendência em associar-se, (por uma questão de defesa natural) a grupos tais como tribos, equipas, claques ,países, povoações, exércitos, famílias etc. Como é óbvio, ao juntares-te a um grupo para defenderes um conjunto de ideias (sejam elas filosóficas, politicas, económicas ou religiosas), perdes liberdade, pois tens que coadunar as tuas ideias com as do grupo. Por outro lado o que perdes em liberdade, ganhas em capacidade de influencia (a união faz a força). Quanto á rivalidade, que existe entre os dois grupos acho na realidade bastante positiva. Nutrindo o grupo A e o grupo B um "ódio" mutuo, ambos apontarão os defeitos uns do outro. Este conflito evitará extremismos, e permitirá chegar-se a um consenso que evite as características mais negativas de ambos os modelos.
Deixo-te também a seguinte pergunta. Aplicando o teu raciocínio a todos os grupos de pensamento ou de ideias, tais como partidos e juventudes partidárias, dado que ambos se regem, por uma forte e limitadora carga ideológica. São também organizações bastante clubistas, e detentoras dum certo "ódiozinho" pelos seus rivais. E no entanto as pessoas juntam-se a eles , para defender as suas ideias. Achas isto “divertido” e “perigoso”? Ou antes prático?
Quanto á ideia dos políticos começarem a fazerem os orçamentos, baseados num manual, ou nos subtítulos do mesmo, a única coisa que te posso é concordar com a tua ideia que cada país tem os lideres que merece. No entanto a segunda hipótese, parece-me um bocado difícil, dado que os ministros das finanças são normalmente pessoas , com uma vasta e completa formação em economia. A não ser que os cursos de economias portugueses se limitem a ensinar subtítulos. Limitam-se? :)

Tiago Freitas disse...

isto está uma telenovela óptima!!!Lenine jacobino e republicano (disfarçado de monárquico beato) versus princesa da economia!!!ahahah seguem-se mais episódios

Rodrigo Lobo d'Ávila disse...

criaturinha...

michael seufert disse...

O que mais me incomoda, é haver políticos que se põem à frente dum país duma cidade, dum paretido, etc, sem que se lhes conheça uma referência.
Não falo só de Economia, falo de visão geral.
Uma obra, um livro que inspire a sua abordagem à política. Acho fundamental...