terça-feira, 4 de março de 2008

Ainda o Kosovo

Passando aqui por cima do tema lançado pelo China Pires, volto à questão com que o Rodrigo, não sem malícia, abriu as hostilidades aqui no NS: a independência do Kosovo (e digo que não foi sem malícia, pois como vêem no comentário dele a este post, o Rodrigo, malvado, esperava que eu caísse na provocação...).
Antes de mais deixem-me dizer que há milhentas coisas que me preocupam antes da independência do Kosovo. Há muito mal para nos concentrar aqui em Portugal que esse, mas não posso deixar de desenvolver aqui uma ideia acerca da legitimidade de um povo se declarar independente.
O direito dum povo ou duma comunidade à secessão é o direito último contra a opressão do estado. Depois de esgotar todas as formas de luta, um estado opressor só pode ser derrotado por uma declaração, ainda que unilateral, de independência - e subsequente guerra se necessário. Foi assim que nasceu Portugal e os Estados Unidos, os dois melhores países do mundo, como sabem.
Não vejo, como já insinuei anteriormente, como é que um Kosovo independente pode ser mais desestabilizador para os Balcãs que um Kosovo província da Sérvia. O povo kosovar recebeu o que queria (veja-se que não houve nenhuma manifestação no interior do Kosovo contra a independência), e pode agora unir esforços para tornar o país melhor. A situação contrária, em que um povo é mantido contra a sua vontade sob tutela dum estado que não reconhece parece-me muito mais instável.
Depois ouvimos que o Kosvo é um país inviável. Ora isso é algo que não podemos saber. Timor, é um país viável ou ficava melhor, contra a vontade do seu povo, no seio da Indonésia? A Palestina, que mal é fechada a fronteira com Israel cai no caos, viável? A viabilidade parece não importar quando o país é "politicamente correcto" - e não devia importar.
Quanto à ideia de que os muçulmanos franceses pudessem declarar a independência numa zona qualquer de França, é esperar para ver. Não me parece que isso acontecesse. Portanto, se é uma situação impossível não me preocupa. Se (um enorme SE), um dia isso acontecesse, significaria que a Europa tinha deixado de fazer sentido como a conhecemos. Tinha desistido de oferecer filhos ao seu território. Tinho dito "Adeus e boa noite".
Pois que quem ficasse, fizesse o que quisesse.

3 comentários:

João Ribeirinho Soares disse...

Micha,
Até concordo com grande parte do que dizes... agora a questão do Kosovo não se aplica na 1ª parte do teu post com a qual concordo inteiramente ( 3 primeiros paragrafos).
O Kosovo independente é exactamente igual a um possivel Estado Muçulmano de Marselha... Os Kosovares não existem. O Kosovo nunca existiu enquanto nação! Um Kosovo independente pode destabilizar toda a região! Imagina albaneses livres e independentes para chacinar Servios num País reconhecido por mais de meia Europa!

José Miguel Guimarães disse...

Concordo inteiramente com o ribeirinho! Se por cada vez que houver mais que uma comunidade a partilhar um mesmo espaço se tenha de criar um novo país, vamos ter um mundo cada vez mais fragmentado...Houve opressão e chacina no Kosovo? Houve sim senhor...mas o assunto foi supostamente resolvido e os responsáveis levados a tribunal...N vejo portante necessidade alguma na criação de um novo estado, que constituirá precedente nas relações e no direito internacional.

Rodrigo Lobo d'Ávila disse...

Caro Micha:
Como o João, também concordo em parte com o que dizes. No entanto deve-se levar em conta vários pormenores que na minha opinião tornam isto num caso á parte: a maior parte da população do Kosovo é muçulmana e de origem albanesa. Ou seja migrou ao longo do século XX para o Kosovo, (que sempre foi uma parte integrante e nacional da Servia). Daí o paralelismo com a França (que apenas serviu de exemplo).
Outra questão de interesse é que a toda a população servia do Kosovo foi obrigada a fugir aquando da ocupação do território por parte da KFOR, que não se preocupou em proteger a população civil servia.
Também deveremos levar em conta que a Servia de hoje não é a servia de Tito, nem a de Milosevic. É um país democrático que vai entrar para a U.E., não fazendo sentido as manifestações de apoio e de encorajamento, (por parte dos EUA, e de alguns estados europeus) aos desejos separatistas kosovares. Isto leva a que uma pequena republicazinha sentido as costas quentes, declarasse a independência, sabendo que essa não acarretava com esta a responsabilidade de auto-governação que daí advêm. O Kosovo sabe que, á semelhança da bósnia (outro narco-estado onde o crime organizado impera, como na Albânia), pode simplesmente deixar-se cair nos braços da U.E., e beneficiar das delícias de ser um protectorado da mesma.
A independência do Kosovo, também poderá levar aos desejos independentistas da república servia da Bósnia desagradando a mesma. Tudo isto em suma ajudará, a tornar os Balcãs (principalmente Albânia, bósnia e Kosovo) num terreno bem fértil para a Al-quaeda semear as suas sementes, podendo este desgraçado território tornar-se num calcanhar de Aquiles da Europa.